Cresce número de condomínios irregulares em Brasília

Era para ser uma cidade planejada, com construções limitadas em uma área tombada como patrimônio cultural. Deveria, mas não é o que se vê em Brasília. Os condomínios irregulares se multiplicam. É a especulação imobiliária que cresce sob os olhos do poder público.

A capital federal cresce desordenadamente. A justificativa do governo do Distrito Federal é que as pessoas precisam morar em algum lugar. Já são mais de 500 condomínios irregulares.

Segundo a União dos Condomínios Horizontais, de cada quatro moradores do Distrito Federal, um vive em um conjunto irregular. Difícil explicar em uma cidade planejada essa ocupação desordenada.

Portaria com segurança 24 horas, jardins e praça para as crianças. As obras, que começaram há décadas sem autorização, invadiram áreas públicas e particulares e, com o tempo, se multiplicaram. Hoje são mais de 500 condomínios irregulares no Distrito Federal. As construções transformaram o mapa da capital.

“O que não é legal a gente se preocupa, mas a gente quer que legalize, porque não é legal. Ficar do jeito que está é que não dá”, diz Maria Aparecida Peres, moradora de um condomínio irregular.

A expansão habitacional de Brasília revela algumas curiosidades. Um dos maiores condomínios tem cerca de duas mil casas. Apesar de ser considerado irregular pelo governo, já recebeu obras públicas, como uma ciclovia que passa bem próxima ao portão da entrada. Os moradores têm luz e água encanada.

A ocupação de terrenos ilegais tem uma explicação. Morar no Plano Piloto passou a ser para poucos. Boa parte do plano foi tombada pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade em 1987. Novas construções foram limitadas.

Parte da classe média perdeu poder aquisitivo para morar na área mais tradicional da cidade. Um exemplo de quanto custa viver no Plano Piloto? Um apartamento tem 79 metros quadrados.

“Ele custa R$ 445 mil. Está em torno de R$ 5,6 mil o metro quadrado. Nesse bairro, por exemplo, a variação de preço está entre R$ 4 mil e R$ 9 mil o metro quadrado”, calcula o corretor de imóveis Fernando Vilaverde.

Muito caro para a classe média, impossível para a baixa renda – a saída para os mais pobres foi escapar de Brasília. Um dos condomínios fica em Sobradinho, a cidade que abriga a maior população em condomínios irregulares.

“O aluguel, para mim, sai a R$ 285, com água e luz”, comenta Nadiel Moraes, morador de um condomínio irregular.

Para tentar regularizar os condomínios, o governo do Distrito Federal está avaliando a documentação de cada morador e checando a condição ambiental e fundiária dos terrenos. Mas quem invadiu área pública vai ter que pagar de novo pelo lote ao governo.