Moradores da Pituba se reúnem e decidem tomar conta de praças públicas

A organização, criada por moradores de condomínios que circundam a lagoa do bairro, toma conta do espaço antes degradado

Cansados de esperar pela prefeitura, três  grupos de moradores da Pituba se reuniram e revitalizaram por conta própria três espaços do bairro. Apesar de pagarem um dos IPTUs mais caros de Salvador, eles não ficaram só na bronca e resolveram agir.

“Quando me mudei pra cá, no começo do ano, a lagoa da praça tava uma sujeira. Era folha, saco plástico, garrafa pet... Tinham patos aqui que sumiram”, conta a jornalista Eliana Frazão, uma das mais ativas da Associação dos Amigos da Lagoa dos Patos da Pituba (Asalpp).

A organização, criada por moradores de condomínios que circundam a lagoa do bairro, toma conta do espaço antes degradado. “A gente começou fazendo um mutirão no final de março deste ano. Cerca de 30 moradores. Foram mais de 100 sacos de lixo”, lembra.

No começo eram eles próprios que faziam o serviço de limpeza e jardinagem. Hoje uma taxa de R$ 3 é cobrada aos condôminos de seis edifícios que aderiram à Associação. Um jardineiro e um limpador trabalham no local.

“Fomos, aos poucos, melhorando as coisas. Também pedimos e a prefeitura cedeu dez papeleiras. Conseguimos mais oito com uma seguradora vizinha”, lembra Eliana, que brinca: “Funcionamos como uma PPP, parceria público-privada”.

Mais privada do que pública, na verdade. Desde que os moradores começaram a cuidar da limpeza do espaço, nenhum gari apareceu mais por lá, reclama a moradora.

Bichos
Com a lagoa limpa, a fauna enriqueceu. Vinte e cinco gansos recebem o cuidado dos moradores. Dois mercadinhos da região fornecem folhas de alface para a alimentação dos animais. Outros bichos, como gaviões, galinhas d'águas e mergulhões convivem no local.

A revitalização do espaço empolgou os moradores, que voltaram a frequentar a praça e colaborar com sua manutenção. Hoje é o advogado Renato Quadros que se prontifica a varrer parte da praça todos os sábados pela manhã.

Outra vizinha, Ana Santos, contribui alimentando os gansos pela noite com milho. Eliana fornece sacos plásticos para aqueles que passeiam com os cães de estimação.

Um outro morador, Márcio Amorim, no meio da entrevista com Eliana, interrompeu para felicitar o trabalho. “Isso contagia. É legal, ajuda a integrar o bairro. Vou ajudar doutor Renato a varrer de manhã”, prometeu.

União
Pouco acima da lagoa, uma pracinha também se transformou após a união de um outro grupo de moradores. A praça Aníbal Jorge já chegou a servir de pasto para cavalos. “Isso aqui também era um depósito de fezes de cachorro. Fizemos uma campanha de conscientização e também fornecemos sacos plásticos”, contou Suzete Canguçu, síndica de um dos condomínios da região. 

Hoje, um mural com fotos dos animais dos moradores adorna o local. “Está muito melhor. A gente socializa muito mais. E olhe que isso valoriza o imóvel”, lembra.

Mas, assim como a Lagoa da Pituba, ela também reclama que a limpeza pública sumiu de lá. A praça conta com lixeiras particulares e um funcionário pago pela união de três condomínios.

Cerca de 300 metros dali, a praça Igaratinga oferece, inclusive, um segurança particular. Um acessório que fornece sacos plástico, assim como aqueles de supermercado, se encontra na praça pra quem passear com o cachorro. Um quiosque construído pela prefeitura também dá um toque de luxo.

“Essa aqui é a melhor praça da Bahia”, diz o aposentado Wilmar Peixoto, que  jogava dominó e tomava uma cerveja com amigos. Seis condomínios pagam uma taxa  de R$ 1.200 para segurança e jardinagem, que também não conta com limpeza pública. “A prefeitura é omissa. Não faz nada”, diz a advogada Mariana Munne, uma das responsáveis pela administração.

Domínio dos sacizeiros
“Tenha cuidado, porque aqui fica cheio de sacizeiro”. Este foi o alerta que a cuidadora de idosos Kátia Queirós, 32 anos, ouviu de um segurança ao entrar na Praça Nossa Senhora da Luz, na Pituba, por volta das 11h de ontem.

Acompanhada do marido, André Carlos Santos, 30, e do filho Isac, 1 ano, ela tinha escolhido o local para um passeio em família.

“Hoje, o dia em que estou de folga, não posso nem levar meu filho para passear. Eu queria ficar mostrando os pombos para ele, mas fiquei com medo. Aqui tem guardas municipais, mas eles ficam lá fora”, reclamou.

O marido de Kátia já trabalhou como segurança e diz que deu “três plantões” no local. Segundo ele, a partir das 18h, os sacizeiros começam a se concentrar na praça. “É nesse horário que tem mais assalto. Os sacizeiros ainda usam a praça para dormir. Aqui deveria ter mais atenção da prefeitura”.

Até mesmo o segurança da praça que alertou a cuidadora contou que já sofreu ameaças dos sacizeiros  da região. Além da praça, eles costumam ficar no estacionamento ao lado, tomando conta dos carros, e na frente da Paróquia Nossa Senhora da Luz. “Os fiéis dão dinheiro para eles olharem os carros. Com esse dinheiro, eles compram drogas e ficam aqui na praça”.

O segurança contou ainda que os usuários de drogas usam a fonte d'água da praça para tomar banho e lavar as flanelas que usam para limpar os carros. “A gente proíbe, mas não adianta. Um deles chegou a me ameaçar. Ele disse que quem toma conta da praça são eles  e que se  quisesse o pessoal dele viria aqui para me matar”.

Indicada por um amigo, a cobradora de ônibus Jane Ceile Medeiros, 30, levou a filha de 9 anos para conhecer a praça, mas se surpreendeu com o estado do local.  “A gente veio a passeio e encontrou até fezes no lugar onde as crianças brincam”.


Fonte: Correio