Custo para morar sobe três vezes mais

Inflação da habitação registrou alta de 2,62% no DF neste primeiro trimestre. Na média do país, preços aumentaram apenas 0,91%. De 23 itens, entre aluguel, condomínio e gás de cozinha, 18 tiveram alta

Os gastos que envolvem a manutenção de uma casa são altos, especialmente no Distrito Federal. Neste primeiro trimestre do ano, a inflação da moradia subiu 2,62%, quase três vezes mais do que na média nacional, que ficou em 0,91%. O levantamento tem como base o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e utilizado pelo governo federal no cálculo oficial da inflação. A oscilação dos preços da habitação engloba uma gama diversificada de itens, que vão dos custos do aluguel e condomínio aos gastos com serviços de reparo, reforma e limpeza, passando pelo preço dos combustíveis domésticos, como o gás de cozinha, e pelas tarifas públicas, como a de água e esgoto (veja quadro).

No DF, o preço de quase todos os produtos e serviços avaliados registrou alta de janeiro a março, em patamares acima dos nacionais. A taxa de água e esgoto encabeçou a lista dos vilões, cravando aumento de 3,98%, contra 0,74% no país. Logo atrás veio o desinfetante, que subiu 3,90% aqui e 0,55% na média nacional. O aluguel residencial, com aumento local de 3,78% e nacional de 1,05%, e o condomínio, que subiu 3,26% no DF e 1,66% no país, fecham o rol das altas mais acentuadas.

De um total de 23 itens, apenas cinco são exceção. Registraram deflação no DF o material de pintura (-0,85%), o sabão em barra (-2,47%), a dupla amaciante/alvejante (-1,75%), a esponja de limpeza (-0,93%) e a tinta (-2,23%). A queda acompanhou movimento de recuo no país, já que os quatro primeiros produtos também diminuíram de preço na média nacional, registrando quedas pouco significativas, perto de 0,5%. Na média nacional, o preço da tinta ficou quase estável — subiu 0,26%.

Para o economista Clóvis Scherer, diretor do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socieconômicos (Dieese) no Distrito Federal, os números expressam um desalinhamento com a inflação nacional. Scherer destacou que o Dieese divulgou ontem o índice de custo de vida relativo a março para São Paulo, englobando os segmentos alimentação, saúde, habitação e transporte. A alimentação foi a cesta de itens com a maior alta, de 1,54%. A habitação subiu pouco, 0,46%. “São Paulo corresponde a 40% do mercado do país, então o que ocorre lá costuma ser reproduzido em nível nacional”, explica ele, ressaltando, entretanto, que os produtos e serviços relativos à habitação levados em conta pelo Dieese abrangem um universo menor do que o englobado pelo IBGE.

O economista Roberto Piscitelli, professor da Universidade de Brasília (UnB), diz que o poder aquisitivo elevado da população de Brasília pode ter criado condições favoráveis para que os reajustes de preços na capital federal aconteçam em patamares acima da média. “O tipo de mercado de consumo que existe no DF facilita negociar aumentos e fornecimentos mais elevados para tudo”, destaca. Ele cita representações financeiras e órgãos da administração pública como usuários dos itens presentes na inflação da habitação medida pelo IBGE.

Todos os meses, o Sindicato do Comércio Varejista de Materiais de Construção do DF mede o faturamento de 37 pequenas, médias e grandes empresas do setor. Em janeiro, o montante cresceu 5,41%, em relação ao mesmo período do ano passado. Em fevereiro, o salto foi de 10,35% frente ao mesmo mês de 2009. O presidente do sindicato, Cecin Sarkis, aposta em um percentual ainda maior. “Brasília é uma cidade atípica para esse segmento. Talvez pelo elevado poder aquisitivo da população, a quantidade de obras é muito grande e a demanda é constante”, afirma. Segundo o IBGE, o preço do cimento no DF registrou alta de 2,78% no primeiro trimestre, ante 0,62% da média nacional. No caso da areia, o aumento ficou em 1,4%, enquanto no restante do país o produto subiu 0,32%.

O peso de reformar e construir

Há 14 anos em atuação no mercado da capital federal, o engenheiro Carlos Moura, 49 anos, percebeu o aumento no preço do cimento e da areia este ano. “São os itens que mais pesam no nosso trabalho. É o arroz com feijão da construção civil”, diz ele, que atualmente responde por quatro obras. Moura conta que os clientes têm percebido e reclamado das variações desde o fim do ano passado. “Em dezembro, o saco de cimento custava entre R$ 12 e R$ 14. Agora, sai por R$ 18, R$ 19. O metro de areia saltou de R$ 65, R$ 70 para R$ 90”, afirma.

As variações positivas, no entanto, não interferem na demanda pelos materiais de construção. “Brasília é um fenômeno impressionante, as obras não param, independentemente de crise, de alta de preço”, ressalta o engenheiro Moura. Gerente de uma loja do setor, Roney Felix confirma que os preços mais altos não fazem cair o movimento. Ele explica que as altas registradas pelo IBGE correspondem a reajustes aplicados nesta época do ano pelas distribuidoras e, principalmente, ao aumento no valor do frete de alguns itens. “Todo início de ano há essa variação”, reforça.

A inflação medida pelo IPCA aponta alta de 1,61% no valor do gás de botijão no DF, no primeiro trimestre. O percentual médio do país foi um pouco menor, 1,15%. A proprietária de uma empresa do segmento Cláudia Marques conta que não há reajuste desde 2004, mas acrescenta que existe uma grande variação na tabela do mercado, o que pode explicar o aumento observado pelo IBGE. “Não perco cliente por causa de preço, só que meu valor é R$ 45. Sei de lugares que vendem a R$ 50 e outros até a R$ 29,90, mas não sei como esses conseguem”, afirma. Na unidade do Cruzeiro, Cláudia vende entre 350 e 400 botijões por dia. Em Taguatinga, a venda diária chega a 1,5 mil unidades. (MB e DA)


O número
R$ 50
Preço máximo cobrado por um botijão de gás de cozinha



Fonte: Correio Braziliense