Expansão urbana
Guará III à vista

A Terracap vai licitar 1,8 mil lotes entre as QEs 48 e 54. Nos setores Jóquei Clube e Quaresmeira, a previsão é de prédios em condomínios fechados. Ao todo, são 35 mil novos moradores

Samanta Sallum e Gizella Rodrigues
Da equipe do Correio

Até dezembro, a classe média que procura moradia vai ganhar um pacote de opções oferecido pela Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap). A empresa tem vários editais engatilhados que somam uma oferta total de 4.525 terrenos. Além do novo setor habitacional Noroeste, a grande aposta do governo local é o Guará. A expansão da cidade está entre os principais empreendimentos habitacionais. Há três em andamento: a licitação de 1,8 mil lotes para a construção de casas entre as QEs 48 e 54; e os novos setores Jóquei Clube e Quaresmeira. Estes serão ocupados por prédios de apartamentos em condomínios fechados como o Superquadra Brasília, também no Guará (veja mapa). Os projetos vão atrair cerca de 35 mil novos moradores para a região.

Os terrenos entre as QEs 48 e 54 atenderão ao Programa de Moradia do Governo do Distrito Federal para famílias com renda entre 12 e 20 salários mínimos (R$ 4.980 a R$ 8,3 mil). Nessa faixa, estão incluídos muitos servidores públicos que são alvo do projeto. Qualquer pessoa, no entanto, poderá participar da licitação, desde que preencha os requisitos: residir no DF há mais de cinco anos e não possuir imóvel ou ter sido proprietário de um na capital. Somente poderão concorrer pessoas físicas. O limite de compra será de um imóvel por pessoa. O edital de licitação está em fase de conclusão e programado para sair até o fim do ano.

A área onde serão construídas as quatro quadras fica atrás das QEs 42, 44 e 46, entre o Guará e o Setor de Postos e Motéis. Atualmente, o local abriga uma invasão de catadores de papel, que será removida nos próximos dias. Os moradores serão levados para um setor na expansão de Samambaia que já abriga famílias retiradas de áreas de risco da Fercal e de Ceilândia.

Além dos projetos das casas no Guará, serão lançados outros que prevêem a oferta de 8 mil apartamentos. Para o setor Jóquei Clube estão pensadas 254 projeções e no Quaresmeira, 21 imóveis. Os dois estão em fase de estudos urbanísticos e ambientais. “O governo vai garantir a infra-estrutura. Todos os projetos passaram por análises técnicas criteriosas, são viáveis e cumprem o compromisso do governo de ofertar moradia dentro de condições acessíveis de pagamento para a população. A forma de impedir o surgimento de novos parcelamentos irregulares é oferecer opções dentro da legalidade”, explicou o presidente da Terracap, Antônio Gomes.

Jardim Botânico III

Está marcada para 27 de novembro a licitação de mais um lote de terrenos do Jardim Botânico III. Serão 100 imóveis, mas os preços e condições de pagamento ainda estão sendo definidos. A Terracap não descarta alguns ajustes. “Todo mês é preciso fazer avaliação de mercado. Podem ocorrer alterações no período e, por isso, não podemos afirmar que as condições serão as mesmas que as oferecidas na primeira licitação”, explicou o diretor comercial, Anselmo Leite.

Estima-se que o valor base para os lances de R$ 150 mil passe para R$ 200 mil — que foi a média de preço em que os lotes na primeira licitação foram arrematados. Na primeira oferta de vendas do Jardim Botânico III, a Terracap bateu o recorde de valorização de terreno numa licitação. Todos os 87 foram vendidos. Enquanto a média de ágio é de 17%, com o Jardim Botânico III a empresa alcançou 26%. “Esse resultado mostra que a demanda está reprimida e que estamos no caminho certo”, avaliou Antônio Gomes. Com a primeira licitação, a Terracap vai arrecadar R$ 26 milhões.

Ainda há 400 lotes no setor. “Vamos realizar uma licitação por mês. Estamos acelerando o calendário de obras para antecipar de junho para abril a conclusão da infra-estrutura”, destacou o presidente da Terracap. Teve terreno que foi disputado por 15 concorrentes. A média de procura foi de três interessados por imóvel. A maior oferta foi de R$ 336 mil por um lote de 800 metros quadrados.

Até janeiro, sairá o edital de licitação para a venda de 1,2 mil lotes da segunda etapa do Taquari. Havia um problema ambiental de drenagem que a Novacap está solucionando. “A região está desembaraçada, todos os imóveis registrados. Será outra boa opção para a classe média”, aponta Gomes. Os lotes devem sair por R$ 180 mil.

Críticas à falta de planejamento e de estudo de impacto

Especialistas em desenvolvimento urbano se preocupam com a criação de mais quadras no Guará e temem o desvirtuamento da cidade, criada em 1967 para abrigar trabalhadores do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). Pelo projeto original, o Guará deveria chegar até a QE 36. A primeira expansão foi planejada na década de 80, quando a QE 38 foi construída. De lá para cá, mais quatro quadras foram feitas. Com a licitação dos novos lotes nas QEs 48, 50, 52 e 54, o Guará será emendado ao Núcleo Bandeirante, o que é condenado pelos estudiosos.

Pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), o geógrafo Aldo Paviani critica a expansão urbana que, para ele, não é bem planejada. “Os espaços vazios são vistos como garantia de lucro pelas imobiliárias. Vejo que, daqui a 10 anos, não teremos áreas de cerrado no DF”, critica. Paviani explica que a conurbação — o fenômeno de uma cidade se juntar a outra — ameaça o projeto de Brasília, feita para ser cercada por um cinturão verde.

O arquiteto e urbanista Frederico Flósculo também discorda do crescimento do Guará. Segundo ele, nunca foi elaborado um Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima) para a cidade, o que impossibilita medir as conseqüências da expansão urbana no local. “É uma loucura propor mais crescimento sem medir o estrago urbanístico e ambiental que isso vai causar”, afirma. Flósculo lembra que, desde que foi planejado, o Guará teve inúmeras expansões. “O próprio Guará II foi feito depois e já cresceu desde que foi criado, na década de 70. Não consigo nem dizer quantas novas quadras já foram adicionadas ao projeto original.”

Moradores também reclamam do inchaço da cidade. O presidente da Associação de Moradores do Guará, Severino Marques de Oliveira, mora no Guará II desde que ele foi criado, em 1973. E queixa-se que, apesar das novas quadras, o Guará não tem um hospital regional até hoje. “Não somos contra a oferta de moradias. Mas o governo deveria nos dar a contrapartida. O sistema viário está cada vez mais congestionado, as escolas têm a mesma estrutura de 40 anos atrás, a violência aumenta a cada dia. Além disso, o posto de saúde não atende toda a população, não temos opções de lazer nem emprego suficiente”, diz o pioneiro. (GR)

Memória
Casas ao lado da Epia

A construção das novas quadras no Guará não é a única expansão recente da cidade. Quatro luxuosos condomínios residenciais e comerciais estão sendo erguidos às margens da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), numa área atrás do Carrefour Sul, entre o ParkShopping e o Casa Park. Os empreendimentos prevêem 34 prédios e vão trazer pelo menos 6 mil moradores ao setor onde, pela proposta original de Brasília, não deveria haver residências. Os condomínios estão sendo erguidos no Setor de Múltiplas Atividades Sul (SMAS) e no Setor de Garagens e Concessionárias de Veículos Sul (SGCV), originalmente pensado para oficinas, concessionárias e garagens.

A mudança de destinação foi permitida pelo Plano Diretor Local (PDL) do Guará, aprovado em meados de 2006, mas é questionada por especialistas. O governo tenta conter o crescimento da cidade e limitou a altura dos prédios a 26 metros, o equivalente a oito pavimentos. Além disso, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Seduma) está realizando um estudo para estabelecer as diretrizes da ocupação do novo setor habitacional. (GR)

Memória
Casas ao lado da Epia

A construção das novas quadras no Guará não é a única expansão recente da cidade. Quatro luxuosos condomínios residenciais e comerciais estão sendo erguidos às margens da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), numa área atrás do Carrefour Sul, entre o ParkShopping e o Casa Park.

Os empreendimentos prevêem 34 prédios e vão trazer pelo menos 6 mil moradores ao setor onde, pela proposta original de Brasília, não deveria haver residências.

Os condomínios estão sendo erguidos no Setor de Múltiplas Atividades Sul (SMAS) e no Setor de Garagens e Concessionárias de Veículos Sul (SGCV), originalmente pensado para oficinas, concessionárias e garagens.

A mudança de destinação foi permitida pelo Plano Diretor Local (PDL) do Guará, aprovado em meados de 2006, mas é questionada por especialistas. O governo tenta conter o crescimento da cidade e limitou a altura dos prédios a 26 metros, o equivalente a oito pavimentos. Além disso, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Seduma) está realizando um estudo para estabelecer as diretrizes da ocupação do novo setor habitacional. (GR)