Tendência de desaceleração

Apesar do aumento médio de 10,7% no valor do metro quadrado de imóveis, especialistas acreditam que os reajustes devem passar a ocorrer de maneira mais lenta. A capital federal ocupa o quinto lugar no ranking da valorização.

 
A valorização dos imóveis no Distrito Federal continua sendo um entrave para a realização do sonho da casa própria. Apenas nos últimos seis meses, houve um aumento médio de 10,7% no preço do metro quadrado. Apesar de o índice ser suficiente para atrapalhar os planos de muitas famílias, especialistas acreditam que esse é um indicativo de que o mercado está desacelerando. Embora não haja tendência de queda, os ganhos devem crescer em ritmo menor. O levantamento, divulgado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), coloca a capital federal em 5º lugar no ranking da valorização, atrás de Rio de Janeiro (19,5%), Belo Horizonte (15,9%), Recife (15,1%) e São Paulo (14%).

Ainda que não exista uma série histórica com o registro da variação anual no DF, especialistas no assunto estimam que há cerca de três anos os imóveis chegaram a subir, em média, 35%. Para 2011, a estimativa não supera 20% de aumento. O vice-presidente de comunicação e marketing do Sindicato da Habitação no Distrito Federal (Secovi-DF), Gilvan João da Silva, afirma que a redução da velocidade aparece como uma tendência. “É um movimento natural. Antes, não tinha ofertas nem lançamentos e a demanda era alta. Em 2008, alguns apartamentos na Asa Norte e Sudoeste chegaram a ter o preço aumentado em 80%”, conta.

Silva explica que os acentuados reajustes começaram em Brasília antes das demais capitais. “A renda vinha crescendo e a classe média da cidade é expressiva. Agora, a tendência de acomodação também pode acontecer aqui mais rapidamente”, aposta.

Independentemente das análises, a valorização no DF ainda supera o IGP-M, índice utilizado para reajustar a maioria dos contratos de aluguel, que teve alta de 3,14%, e a inflação medida no período pelo IPCA, de 3,78%. O engenheiro Carlos Antônio Porto, 33 anos, sabe na prática o que os números representam no orçamento familiar. “Há quase sete meses eu e minha esposa procuramos uma opção que seja próxima do meu trabalho, em Taguatinga, e do dela, no Plano Piloto. Mas para morar perto é preciso escolher um apartamento pequeno e pagar um preço exorbitante”, lamenta.

As opções mais afastadas do trajeto diário, como Ceilândia e Valparaíso, passaram a ser cogitadas, mas também podem custar caro ao casal. “Apesar de a diferença ser grande, a distância se torna um problema. É preciso levar em conta o quanto vamos gastar com transporte para também não pesar no bolso”, completa.

Longe do Plano
Adalberto Valadão, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-DF), prevê que a rota dos investidores ficará cada vez mais distante do Plano Piloto. “As áreas onde os preços são mais baixos terão mais possibilidades para crescer. A procura do público é maior, principalmente nas classes C e D. Tem muito mais gente na base da pirâmide”, afirma. Nessa faixa de renda, o deficit habitacional também é maior. “Mais pessoas em busca de um lugar para morar mantêm viva a lei da oferta e da procura”, define Valadão.

Neste cenário de mudanças, o economista Adolfo Sachsida, professor da Universidade Católica de Brasília, diz encontrar um detalhe que é fundamental para quem pensa em usar o imóvel para aumentar a renda. “Está ficando mais difícil de vender. A ideia de liquidez está sendo desfeita”, ressalta. “Antes, se dizia que ter um apartamento era como ter dinheiro no banco. Justamente pelos altos valores cobrados, essa realidade também está mudando.”