Seguranças de construtoras estariam usando armas de choque no Noroeste

Os conflitos entre manifestantes que defendem a manutenção do Santuário dos Pajés, no Setor Noroeste, e as empresas responsáveis pela construção do novo bairro se acirraram mais uma vez na manhã de ontem.

Os militantes e os seguranças das empresas entraram em combate quando uma cerca foi derrubada. Segundo os jovens, eles foram atingidos com cassetetes e até por uma arma de choque. A empresa Snake Segurança negou utilizar esse tipo de armamentos.

Desde a última semana, ambientalistas, estudantes e pessoas que defendem a manutenção da reserva indígena no setor vêm promovendo manifestações na área.

De acordo com a professora Kamila Xavier, 28 anos, o dia foi tumultuado em virtude de o grupo ter recebido mais adeptos. “Foi mais desorganizado porque veio muita gente. Mas nós estamos sofrendo violência com cassetete, spray de pimenta, arma de choque. A nossa posição continua a mesma. Vamos continuar resistindo”, disse.

O documentarista Antônio Francisco, 27 anos, que acompanha as ações que envolvem o Setor Noroeste desde 2007, foi agredido por volta das 11h, quando fotografava o momento em que os manifestantes derrubavam as cercas da Emplavi. “Tudo começou quando nós encontramos funcionários trabalhando ilegalmente dentro da área. Eu estava gravando e um segurança me deu um choque”, afirmou.

O diretor da Snake Segurança, Diogo Almeida, entretanto, alega que a empresa não utiliza esses equipamentos. “Não utilizamos esse tipo de armamento e com certeza isso não aconteceu. Os manifestantes estão usando táticas para tirar o foco do fato de eles estarem destruindo o patrimônio das empresas”, afirmou. Segundo Almeida, quem toma um choque de uma arma cai no chão e fica paralisado por cerca de cinco a 10 minutos, o que não aconteceu. Para ele, isso prova a inexistência da pistola na área. Antônio Francisco, por sua vez, explica que, de fato, não ficou paralisado, mas garante que o choque foi dado. “Na hora, todo mundo viu. Tanto que redes de tevê transmitiram ao vivo e as minhas tias me ligaram para saber se estava tudo bem. Eu só não registrei ocorrência por conta da greve da Polícia Civil”, detalhou o documentarista.

O major Marcos Vinicius Antunes, que comandou a operação no local, disse que a PM não estava presente no momento do incidente. “Pude ver, pelas imagens da tevê, que o choque foi dado. O agressor será responsabilizado.”

Desrespeito
Os manifestantes voltaram a derrubar cercas porque, segundo eles, as empresas teriam desrespeitado a decisão emitida na última sexta-feira pela juíza federal Clara da Mota Santos, que determina a paralisação de qualquer obra nos 50 hectares do Setor Habitacional Noroeste. “As empresas não receberam uma intimação direcionada, pois os réus na ação civil pública são a Funai, a Terracap e o Ibram. Isso não significa, no entanto, que possam descumprir a determinação provisória de não edificar, uma vez que toda a área está em litígio.”Clara disse ainda que vai adotar todas as medidas cabíveis, inclusive o acionamento da Polícia Federal, para que as deliberações sejam respeitadas.

As empresas Emplavi, Brasal e João Fortes negaram que o conflito tenha acontecido em suas áreas. O diretor da Brasal, Dilton Junqueira, afirmou não ter sido comunicado sobre a decisão da Justiça. “Não recebemos essa decisão, mas, em um movimento de boa vontade, interrompemos 100% das atividades desde a sexta-feira.” Em nota, a Emplavi informou que “até o presente momento, não houve nenhum confronto entre manifestantes, seguranças e funcionários da Emplavi no Setor Noroeste. Os embates ocorridos aconteceram nos canteiros de obra da João Fortes Engenharia e da Construtora Brasal, na Quadra 108 daquele setor”.

A Terracap também convocou uma reunião com as empresas, a Funai e o Ministério Público para tentar solucionar o problema.

Sem sustentação
A área ocupada no setor Noroeste não é considerada terra indígena pela Fundação Nacional do Índio (Funai).Segundo o indigenista do órgão Mário Moura, o laudo apresentado para comprovar a tese não se sustenta. Além disso, segundo ele, a maioria das pessoas que vivem no local sequer são lideranças indígenas.