Obras no Lago Sul geram preocupação em moradores

Moradores do Conjunto 2 da QL 18, no Lago Sul, estão preocupados em função de duas obras em andamento nos dois últimos terrenos da rua, à beira do Paranoá. Segundo o projeto aprovado pela administração regional da cidade, as estruturas servem de base para mansões residenciais luxuosas. No Lote 19, a área construída tem 1.431 metros quadrados. No 20, são1.375m². Os vizinhos, no entanto, não se convencem. Acreditam se tratar de futuras instalações para atividades comerciais, pautados pelo tamanho das construções.

“Isso não tem cara de residência unifamiliar. Eu tenho medo que vire um condomínio, um comércio. Seria o fim da nossa tranquilidade, além de desvalorizar as nossas casas”, reclama a aposentada Tereza Leite Cruz, 59 anos, moradora da rua há cerca de 20 anos. Ela encabeça um movimento na vizinhança para cobrar explicações da administração. “É um absurdo. Alguém está levando muito dinheiro nisso. E ninguém faz nada, o governo é absolutamente omisso com a descaracterização de Brasília”, lamenta o advogado Delgado Afonso, 66 anos.

Por ofício, a Administração Regional do Lago Sul — órgão responsável por aprovar projetos, expedir alvarás de construção e o habite-se — respondeu a Tereza que as construções estão regularizadas, e o projeto respeita as normas de gabarito de Brasília. “Duvido. Acho que as autoridades são coniventes com isso”, revolta-se. “Não temos garantias do uso do espaço depois que ele for construído”, diz o aposentado Cerize Lima Ferro, 81 anos. Situação semelhante aflige moradores do Centro de Atividades 6, no Lago Norte (leia Memória).

As hipóteses ventiladas pelos moradores são descartadas pelo engenheiro responsável pelas obras, Gustavo Silva Filho. “Eles (os vizinhos) estão com ciúmes porque as casas vão ser as mais chiques da rua, até do Lago Sul”, argumentou. Ele confirma que são “casas gigantescas” e terão até elevadores. “Serão casas muito modernas, todas automatizadas”, adiantou. A administração local informou que o projeto foi aprovado como residência e não há irregularidades na planta que pudessem levantar suspeitas contra o uso do espaço.

Não é a primeira vez que os terrenos, conhecidos como pontas de picolé, dão trabalho aos vizinhos. “Antigamente, havia uma moradora que fazia muitas festas, tentou até montar um bufê, mas denunciamos. Houve uma ocasião em que eu tive de chamar a polícia para entrar na minha garagem”, conta Tereza.

A Agência de Fiscalização foi procurada para informar se a obra teve problemas ou se foi alvo de multas, mas o responsável pela área não atendeu as ligações.

Denúncia

Apesar do protesto das lideranças comunitárias, muitas empresas ignoram a vizinhança e continuam funcionando. Com um dossiê de reclamações em mãos, a prefeita comunitária do Lago Sul, Edlamar Batista Pereira, vai pedir intervenção do Ministério Público do DF e Territórios. “Desde o ano passado, temos notado uma invasão no bairro. Os administradores fecham os olhos e aprovam qualquer coisa, sem se preocupar com a preservação do bairro”, comenta.