Ruídos provocados por obras em Águas Claras pode afetar saúde dos moradores

O barulho das obras em Águas Claras tem sido fonte de irritação e influenciado na qualidade de vida dos moradores da cidade. Essa foi a constatação da tese de mestrado do pesquisador Dalmo Rodrigues da Silva, formado pela Universidade Católica de Brasília (UCB). Os efeitos do excesso de obras foram objeto de estudo em 2007, mas finalizado e apresentado em janeiro deste ano. Medições sonoras feitas em 26 pontos de 13 regiões diferentes de Águas Claras constataram níveis superiores a 50 decibéis, máximo permitido pela Norma 10.151 da Associação Brasileira de Norma Técnicas (ABNT) para ambientes externos. De 286 entrevistados, 80% disseram que a percepção em casa do ruído de construções e obras é frequente ou constante. Destes, 66% responderam que já foram acordados por esses sons.

Mas a cidade ainda pode demorar para acabar com a poluição sonora decorrente do enchimento de lajes e dos caminhões. Conhecido como um dos maiores canteiros de obras do país, Águas Claras hoje tem 520 prédios concluídos e habitados e 180 edifícios em construção. Mas, em média, segundo a administração regional, ainda existem 200 áreas disponíveis para ocupação de 1,1 mil lotes. A estimativa é que todas as projeções sejam finalizadas e entregues nos próximos 10 anos. “Temos um deficit habitacional muito grande e, por causa disso, não se para de construir”, explicou o administrador de Águas Claras, Rubem Ferreira da Costa.

No estudo de mestrado, Rodrigues verificou ainda incômodos causados pelo metrô, por carros, ônibus e estabelecimentos comerciais, mas nenhum deles irritou mais do que as obras. O resultado pode ser explicado. Moradores reclamam do descumprimento de horários por parte dos operários. O barulho, muitas vezes, começa antes mesmo das 7h. “Quando são 6h30 já acordo com gente batendo em alguma coisa. Fico com a falsa sensação de que passei do horário e dormi até mais tarde”, contou o policial militar Rafael Singer, 31 anos, morador do quinto andar de um prédio na Avenida Copaíba. O edifício é vizinho de duas obras: uma na lateral e outra na parte de trás.

O quarto do policial fica do lado de um prédio que começa a ser erguido. “Na semana passada, eles (operários) trabalharam até as 22h30. Fui reclamar com o cidadão, disse que ia chamar a polícia e ele me respondeu que eu podia chamar. Aí eu falei: ‘Então está preso’. Eles não sabiam que eu era policial, mas logo pararam de fazer barulho”, contou Singer. Quando está de serviço, o policial militar diz que recebe muitas reclamações de outros moradores da cidade. “Se não estou trabalhando, procuro não me estressar, mas o barulho muito cedo ou muito tarde realmente incomoda”, afirmou.

Outra que sofre com as construções é a comerciária Denise da Silva, 47 anos. “Me mudei para cá há oito anos, mas não imaginava que teria uma obra bem do lado”, reclamou. Da janela dela e dos dois filhos, é possível ver o esqueleto de perto. Para ela, a principal dificuldade é com as crianças, que não conseguem dormir por causa do ruído. “E ainda por cima tem a gritaria deles”, destacou. “Das 5h às 6h é quando a gente tem o sono mais gostoso e tranquilo. Quando a gente acorda assustado, não dá pra dormir mais. O corpo não descansa”, explicou.

Problemas
Para o pesquisador e orientador do curso de mestrado da UCB, professor Sérgio Garavelli, esses efeitos no dia a dia das pessoas podem atrapalhar a qualidade de vida de quem está exposto ao barulho. Além do estresse, os ruídos podem trazer uma série de problemas hormonais, cardiovasculares, dores de cabeça, entre outros. “É um problema de longo a médio prazo, mas que merece atenção”, disse Garavelli.

Segundo o administrador Rubem Ferreira, as reclamações de poluição sonora em Águas Claras são encaminhadas para a Agência de Fiscalização (Agefis) e para o Instituto Brasília Ambiental (Ibram). Ele acredita que atualmente as reclamações de barulho das obras são menores do que em 2007, no auge das construções. “O número de obras é menor que no passado. Hoje podem ocorrer casos esporádicos, mas como a cidade está em construção não tem como viver livre do barulho”, acredita. Entretanto, ele defende que os trabalhos nos prédios comecem e terminem em horários que não prejudiquem o sono de ninguém. “Estamos conversando direto com as construtoras e pedindo colaboração para evitar exageros. À medida que a cidade está sendo ocupada, aumentam as exigências e é preciso que o direito de cada um seja respeitado”, defendeu.

A quem recorrer

As denúncias sobre barulho podem ser feitas para o 156, opção 6. A ouvidoria do órgão atende pelo telefone 3214-5656. Quem ainda preferir registrar a queixa pessoalmente pode ir até o Ibram, no Setor Bancário Sul, Quadra 2.
 
O que diz a lei

É proibido perturbar o sossego e o bem-estar público da população pela emissão de sons e ruídos por quaisquer fontes ou atividades que ultrapassem os níveis máximos de intensidade fixados na Lei nº 4.092/2008. A norma 10.151, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), especifica sobre procedimentos de medição e níveis de avaliação dos ruídos para ambientes externos. Em áreas de sítios e fazendas, o nível permitido é de 40 decibéis para o período diurno; em área estritamente residencial urbana, o ruído máximo é de 50db, e de 60db para área onde predomina atividade industrial.

Publicação: 09/05/2011