IMÓVEIS

Guará e Cruzeiro superam Lago Sul

De acordo com o Sindicato da Habitação do DF, a valorização média do metro quadrado de unidades residenciais avançou mais em regiões menos nobres.

A tendência é de uma aproximação maior dos preços

Os preços médios de imóveis usados em regiões como Guará e Cruzeiro superaram os observados em Águas Claras e, em alguns casos, também deixaram para trás valores cobrados nas áreas mais nobres do Plano Piloto. Para especialistas ouvidos pelo Correio, os números do último boletim mensal do Sindicato da Habitação do Distrito Federal (Secovi-DF), referentes a maio, refletem a pulverização do superaquecido mercado imobiliário local e o freio da valorização de casas e apartamentos no centro de Brasília, após o boom dos últimos cinco anos.

O Secovi considera Brasília as asas e os lagos Sul e Norte, além do Sudoeste. Nessas localidades, os valores absolutos do imóveis ainda lideram o ranking de preços. Em relação ao preço do metro quadrado, no entanto, o boletim do sindicato aponta, em maio, situações inusitadas. O Cruzeiro aparece com o preço mais alto: R$ 4 mil, contra R$ 3.726 em Brasília, no segundo lugar. O metro quadrado de apartamentos de três quartos no Guará (R$ 5.225) só é menor do que o encontrado no Plano Piloto (R$ 7.863). A tendência, estima o mercado, é que os dados se aproximem ainda mais.

A escalada de preços no Cruzeiro não espanta o vice-presidente do Secovi-DF, Ovídio Maia. Ele destaca que o padrão das casas tem melhorado bastante, o que ajuda a aumentar a velocidade de venda e valorizar o bairro. Há casas sendo completamente demolidas para dar espaço a novas residências. “Os anúncios de venda não duram muito tempo”, comenta Maia. Além disso, o tamanho dos terrenos no Cruzeiro é bem menor do que nos lagos Sul e Norte e nas quadras 700. “Quanto menor a área, maior o preço do metro quadrado”, reforça o vice-presidente.

Localização
Diretor de uma das mais tradicionais imobiliárias do DF, Paulo Baeta acredita que o aumento dos preços no Cruzeiro se deve à localização privilegiada, bem próximo do Eixo Monumental. O fato de o bairro ser pequeno, com pouca oferta de imóveis, também contribui para o cenário indicado pelo boletim do Secovi, na opinião dele. “O mercado percebe que, de modo geral, a questão do trânsito está cada vez mais sendo levada em conta. Quem tem condições faz o possível de morar perto do local de trabalho”, acrescenta Baeta.

A tese é reforçada pelo diretor comercial de outra imobiliária, Adriano Cancian. Ele sustenta que por conta do caos no trânsito, o brasiliense tem procurado chegar mais perto do Plano Piloto. E quanto mais perto do Plano, mais caro o imóvel. É isso que explica, segundo Cancian, os preços do Guará e do Cruzeiro ultrapassarem os de Águas Claras. Ele argumenta, ainda, que os valores encontrados no Guará se explicam pela limitação da oferta. “Não há mais espaço para construção de novas casas”, diz. Para ele, a margem de crescimento de preço é maior fora do Plano Piloto.

Os representantes do mercado têm ojeriza à palavra estagnação, mas reconhecem que o boletim do Secovi confirma a previsão de acomodação dos valores dos imóveis usados no Plano Piloto. “Estamos muito longe da estagnação. Não podemos confundir. O que há é um certo ajuste na taxa de crescimento”, afirma o presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do DF (Ademi-DF), Adalberto Valadão. O Secovi-DF acredita que, apesar do crescimento menor, a valorização dos imóveis se manterá na casa dos dois dígitos este ano.

Bairro de servidores
O Cruzeiro, na época bairro do Gavião, começou a ser habitado durante a construção de Brasília, em sua maioria, por servidores públicos federais transferidos do Rio de Janeiro. Nos anos 1960, o bairro avançou rumo à consolidação. Na década de 1970, foi inaugurado um conjunto de prédios com quatro andares, que recebeu a denominação de Cruzeiro Novo.

Crescimento demográfico
Em cinco anos, estima-se que a população da cidade, criada em 1969 para abrigar servidores públicos e funcionários do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), aumente em 60 mil pessoas, o que representará uma expansão populacional de 50%. Nos últimos anos, a cidade mudou de fisionomia: as ruas se alargaram, prédios foram erguidos e as residências passaram a dividir espaço com o comércio.